É comum ouvir as perguntas "como é que é lá na Alemanha?", "gostas de lá/aqui estar?" quando estou em Lisboa ou mesmo quando conheço alguém aqui em Hamburgo com curiosidade sobre o assunto "expatriação" (uma versão mais moderna da palavra "emigração"). E eu sempre respondo com os meus "Sim, gosto muito de aqui estar...", "é claro que...", "mas também me faz falta..." para no final demonstrar que, tirando os amigos e família de quem tenho saudades, estou bem e sou feliz aqui.
Pois bem, há uma outra coisa que me faz falta. Viver num país onde se fala Inglês já é complicado por não ser a nossa língua materna, agora imaginem viver num país em que o idioma é o Alemão! Muito complicado! Aprender a falar alemão dura uma vida inteira (há até quem diga que uma vida não é suficiente para se aprender alemão) mas o desafio maior não é aprender o idioma, mas sim criar uma nova personalidade num outro idioma, uma nova forma de comunicar e interagir, uma nova cultura:
Viver num outro país e em outro idioma é como assistir a um filme dobrado: perdem-se as particularidades da língua, as piadas deixam de fazer sentido ou ganham um novo sentido, a voz soa diferente e as personagens acabam por ganhar um outro carácter e personalidade. É isto que acontece com alguém que está fora: transforma-se na sua versão dobrada.
Há dias que eu só queria "viver em Português". Apenas isto: poder sair, falar, trabalhar e conviver em Português. E nestes dias penso que nenhum dos meus amigos ou colegas, ou mesmo o meu namorado me conhece na minha versão original. Nestes dias, EU sou aquilo que mais me faço falta, e penso cá para mim, que saudades tenho eu de mim, sem erros de tradução e falhas no casting, apenas na minha versão original.
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